Por que diminui o número de jovens
interessados em cursar uma licenciatura e dedicar-se ao magistério, conforme
diz a revista Época (14/4/2008, p.72)? A resposta é óbvia: a desvalorização do
professor, sobretudo no Brasil, cresce paulatina e sistematicamente.
A remuneração é desanimadora para quem
deseja ingressar na carreira do magistério. O maior salário inicial para nível
superior, no Brasil, é de R$ 2.268,00 (30 horas semanais – Acre) e o menor, de
R$ 599,00 (30 horas semanais – Pernambuco). São Paulo, o Estado mais rico da
federação, paga R$ 1.660,00 (30 horas semanais). Roraima oferece R$ 1.547,74 de
vencimento inicial, cuja remuneração vai para R$ 2.105,00 com a GID
(Gratificação de Incentivo à Docência). No final da carreira, as gratificações
desaparecem e o professor, que dedicou sua vida à educação, se torna um
mendigo.
Com o recente reajuste dado pelo
Governo do Estado de Roraima a técnicos de nível superior, a distância entre o
professor e esses profissionais, em termos de remuneração, aumentou
vertiginosamente. Quem vai almejar uma carreira que não deslancha nunca? Quando
se fala em aumento salarial para professor, leva-se em consideração o inchaço
na folha de pagamento, porque o número de professores é sempre bem maior que o
de outros profissionais. É o mesmo que ocorre com os aposentados que ganham
salário-mínimo.
O Plano de Carreira do Magistério
Público do Estado de Roraima não estimula ninguém que almeje passar o resto da
vida se dedicando ao ensino. A diferença salarial entre o iniciante da carreira
e aquele que está na reta final é insignificante. Se um professor, por exemplo,
terminar um doutorado hoje, receberá, na ativa, R$ 3.661,94. Sem direito a
qualquer ascensão daí para a frente.
Com raríssimas exceções, apenas jovens
das classes marginalizadas resolvem abraçar a carreira do magistério, por falta
de condições socioeconômicas e até de preparo acadêmico para competir, em
outras áreas mais promissoras, com os filhos dos ricos no vestibular de uma universidade
pública e gratuita.
As condições de trabalho são cada vez
mais precárias e as cobranças, maiores. A revista Nova Escola nº. 211 divulga que “cada vez mais
professores sofrem com estresse, dores de cabeça, distúrbios de voz e tantos
outros problemas”. E por que o professor adoece? Porque a gestão não lhe dá
apoio ou suporte extraclasse, os cursos de formação superior pecam no currículo
centrado em teorias, falta tempo para estudo e lazer, a indisciplina dos alunos
se eleva, as condições físicas e estruturais das escolas pioram, o currículo é
defasado e o apoio da sociedade vem diminuindo. Segundo Mary Yale Rodrigues
Neves, da Universidade Federal da Paraíba, “a progressiva desqualificação e o
não reconhecimento social potencializam o sofrimento dos docentes”. No passado,
ser professor era status. Hoje, uma
desmoralização.
Circula a informação de que o
professor será cobrado por produtividade. Significa dizer que, se ele não
conseguir melhorar o desempenho dos seus alunos, poderá até mesmo perder o emprego.
Isso seria justo se o professor tivesse as mínimas condições para desenvolver
um bom trabalho. Não é o que ocorre de norte a sul do Brasil.
Esses dados explicam por que jovens
bem instruídos, competentes, na hora de escolher uma profissão, põem em último
lugar o magistério. Não resta dúvida que existe uma orquestração para
desestabilizar a educação pública e, por conseguinte, a figura do professor.
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