Sinal
vermelho
Antonio de Souza Matos
Antonio de Souza Matos
Gosto de pessoas e, quando as conheço,
sinto-me inclinado a cumprimentá-las com um sorriso, um toque ou um abraço,
dependendo do grau de intimidade. Mas isso, de vez em quando, tem me causado
embaraços.
Às vezes, a pessoa amanhece de mau humor e a
última coisa que gostaria de receber era um cumprimento mais efusivo. Na
verdade, talvez, preferisse nem ter saído de casa para não deparar com algum
conhecido em seu trajeto. Entretanto, de repente, lá estou eu cruzando o seu
caminho e, num ímpeto, lhe estendendo a mão. Observo, constrangido, que ela me
devolve o gesto a contragosto, apenas para não ser mal-educada.
Outras vezes, encontro algum conhecido num
lugar público e, pensando que vou ser correspondido, dirijo-me a ele com um
gesto de carinho. Mas noto que só responde ao meu cumprimento por “educação”.
Parece sentir-se incomodado com a minha presença e principalmente com minha
atitude amistosa. Dá uma desculpa e sai de modo apressado, deixando-me quase falando
sozinho.
Certa vez, passei por um grande vexame numa
festa de formatura. Faltou o padrinho, e uma amiga me convidou para
substituí-lo. Na hora de entregar o diploma à minha afilhada, tive de subir ao
palco e cumprimentar cada autoridade da mesa de cerimônia. Uma delas, uma
senhora que eu conhecia havia muito tempo (justamente a mais íntima), reclamou
alto que eu tinha apertado demais sua mão. Envergonhado, pedi-lhe desculpa.
Mas, confesso, que, se soubesse que levaria aquela descompostura pública, teria
feito como um sujeito que conheço, o qual, quando vai cumprimentar alguém,
estende a mão e a mantém aberta, deixando apenas a outra pessoa apertá-la.
Um dia, já faz muitos anos, estava no centro
de Manaus acompanhado de um dos enteados do meu pai quando avistei uma jovem
que eu conhecia desde criança. Fui até ela para cumprimentá-la e lhe apresentar
o rapaz. Fiquei de queixo caído ao notar sua retração e incômodo. Ela me tratou
como se eu fosse um estranho: cumprimentou-me indiferente e saiu de fininho.
De vez em quando, cometo uma gafe com alguma
colega de trabalho. Toco-a com a mão no ombro ou no rosto, mas noto que meu
gesto foi recebido com desconfiança, como se eu estivesse, sei lá,
mal-intencionado.
Sempre procuro refrear meu ímpeto expansivo.
Mas confesso que é muito difícil. Parece que é algo natural em mim. Sei que
todo cuidado é pouco, sobretudo em se tratando de pessoa do sexo oposto. Nem
sempre o nosso gesto de carinho é recebido com bons olhos. Pode até ser
interpretado como assédio sexual.
Por isso, para minha segurança e para evitar
novos constrangimentos, estou me esforçando para conter meus impulsos táteis, principalmente
no que diz respeito a pessoas que rejeitam esse tipo de contato. No entanto, não quero perder jamais aquilo que
Deus colocou em meu coração: o amor ao próximo.
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