Quem conhece os sabores de uma boa comida, aprecia cada
detalhe e sabe o quanto o tempero é essencial para completar seus prazeres!
“Comida é vida”, disse Cora Coralina. A culinária, uma arte.
Talvez a mais popular, acessível e nobre de todas as artes. E o tempero é sua
alma desde os mais antigos tempos.
O mundo estendeu seus limites a partir da busca de especiarias em novas terras e o tempero tornou-se um dos principais motivos das grandes navegações e novas descobertas. Alguns temperos valiam como ouro
sempre movimentando civilizações, culturas e comércios.
Arte, magia, bruxaria, alquimia, química...tudo se mistura
em busca de uma deliciosa e inusitada experiência e de uma vida longa e
saudável graças ao uso de bons e corretos ingredientes.
Sabemos que o sal e o açúcar conservam alimentos, como por
exemplo, no nosso popular charque ou no rico bacalhau, na simples rapadura ou
nas sofisticadas conservas glaceadas europeias.
Com a industrialização, no século passado, e o advento de
alimentos comprados prontos, novas fórmulas e elementos foram acrescidos para
melhor apresentação e conservação do alimento. E o aumento do teor de sódio ou
do açúcar consumido hoje, tem ameaçado assustadoramente nossa saúde. As informações
contidas em todos os rótulos dos produtos industrializados são desprezadas por
muitos consumidores.
Precisamos saber a importância da redução no consumo do
sódio, das gorduras trans e dos açúcares, assim como a ingestão de elementos
benéficos como as fibras, vitaminas e minerais, na medida certa da saúde e do
sabor.
Assim, podemos substituir boa quantidade de sal, açúcar,
corantes ou conservantes, usando os temperos aromáticos (ou alimentos
funcionais) que há mil anos movimentam as civilizações e aguçam os paladares
com seus sabores naturais. Podemos resolver parte dos problemas (cardíacos,
inflamatórios, respiratórios, alérgicos, cancerígenos, envelhecimento precoce
etc.), em nossas casas, conhecendo, aprendendo, usando e abusando dos temperos
naturais.
A depender da planta, podemos aproveitar da raiz ao fruto.
Vamos conferir hoje um pouco sobre as flores, frutos e sementes. Das raízes, caules e folhas falaremos
oportunamente.
Açafrão – são os estigmas ou pistilos da flor de Açafrão,
originária do Oriente, hoje mais cultivada na Espanha. De preço elevado, tem
forte aroma, sabor levemente amargo e coloração coral. Como tempero, usado no
preparo de arroz, carnes em geral, cremes, crustáceos, massas etc.
Indispensável na paella e no risoto à milanesa. Como infusão, usa-se para problemas respiratórios, cálculos dos rins, fígado e bexiga. Têm
propriedades antiespasmódicas e sedativas.
Alcaparra – pequena flor em botão, de sabor levemente
picante. Colhida manualmente e conservada na salmoura ou na acidez do vinagre,
conserva seu aroma e sabor mesmo assim. Usada em pratos típicos do mediterrâneo
como molhos combinado com azeitonas (molho putanesca), em peixes cozidos ou
assados (belle meunière), pratos frios (molho tártaro e steak tartare).
Afrodisíaco, suas raízes são adstringentes, diuréticas e calmantes.
Aneto, Dill, Endro ou Funcho doce – com flores e sementes
semelhantes à erva doce, de aroma agradável e fresco. Pode ser usado no preparo
de peixes e frutos do mar, ovos, molhos, conservas, marinados, queijos e
vegetais. Usa-se as sementes inteiras ou moídas e também as folhas, inclusive
em licores.
Anis estrelado – com frutas em formas de semente e agrupadas
como uma estrela, de aroma forte parecido ao da erva doce, normalmente
utilizado seco. Muito usado na cozinha asiática, em bebidas (anisete), chás,
confeitaria ou como tempero para carnes mais delicadas como porco, aves e
peixes. Queimado ou em infusão é um bom aromatizador de ambientes. Suas
sementes também são eficientes contra o mal hálito, excelente diurético e
ajudante digestivo. Em grande quantidade pode ser tóxica.
Baunilha – em fava, pó, semente ou essência extraída de uma
orquídea trepadeira, exala forte e atraente aroma adocicado. Usada para
perfumar doces, cremes, chocolates e confeitaria em geral, também aromatiza
medicamentos, bebidas e ambientes. Seu aroma é considerado estimulante, e seu
chá, anticancerígeno ajuda a tratar lesões estomacais, casos de insônias,
depressão, stress e previne o Alzheimer. Sua composição tem agentes
antioxidantes que combatem os radicais livres e protege as células.
Cardamomo – sementes natural e engenhosamente acomodadas em uma
cápsula de palha, de aroma e sabor intensos, que podem ser acrescentadas ao
café ou aromatizar pães, carnes, pudins, doces, saladas de frutas e licores.
Parente do gengibre, apresenta sabor forte e adocicado, e é um dos componentes
do curry. Na índia seus grãos são mastigados após as refeições para ajudar na
digestão e refrescar o hálito, por seu poder digestivo e antisséptico. Também é
laxante, diurético e expectorante.
Coentro – usado desde a Grécia antiga, muito parecido com a
salsinha, de sabor mais forte, utilizado na forma de folhas frescas ou de
sementes secas. Como sementes, é ótimo para temperar conservas, sopas, pães,
picles e assados de porco e peixe. Em algumas regiões do Brasil, é impossível
pensar numa moqueca sem o coentro. Por possuir grande quantidade de betacaroteno,
vitaminas e outros, é considerado protetor natural das células, e os primeiros
registros de seu uso eram como erva medicinal para curar micoses.
Colorau, Colorífico ou urucum – de origem indígena (Brasil),
extraído do urucum moído tem um belo tom coral em diversas apresentações. É
usado para dar cor aos alimentos industrializados, molhos, risotos, queijos e
preparações caseiras, sem interferir no sabor. Com muitas propriedades
medicinais, é um poderoso adstringente, usado em casos de problemas pulmonares,
combate os vermes e auxilia no controle do colesterol.
Cominho – originário do Egito, erva cujas pequenas sementes
(com aparência de erva doce) aromáticas são usadas como tempero em carnes
assadas em geral, molhos, queijos e embutidos. Muito usado na culinária alemã,
esta especiaria faz parte da composição do curry. Tem sabor muito forte e deve
ser usado com cuidado. Seu chá funciona como antiácido, laxante, digestivo e
vermífugo.
Cravo-da-Índia –.pequeno botão seco, conhecido no antigo
mundo desde 600, o cravo é utilizado em doces, chás, assados, bebidas,
biscoitos, compotas, picles, e até mesmo como repelente de insetos (É Vero #7 e
8). Usado para refrescar o hálito, possui propriedades antigripais, antibacterianas,
antissépticas, antifúngicas e expectorantes.
Erva doce – pequenas sementes, dispostas em buquê, usadas
secas em perfumaria, bolos, caldas, pães, licores e chás. Possui variadas
propriedades medicinais (muito usada como chás para bebês), combatendo a
dispepsia, dor de barriga, palpitações, indigestão, gases, cólicas, artrite
etc.
Gergelim – pequena semente com sabor parecido ao da
amêndoa, possui uma grande concentração de nutrientes e pode ser usado em
saladas, carnes e até sopas. Cru ou torrado, preto, branco ou misto, decora
pratos doces ou salgados sendo muito usado em toda cozinha oriental. Altamente
oleaginoso, é rico também em minerais e vitaminas antioxidantes.
Mostarda em grão – é a semente da verdura mostarda que dá
nome à pasta preparada com suas folhas – mostarda – a qual pode ser enriquecida
com seus grãos (Dijon) que podem vir inteiros ou finamente processados (alemã
ou americana, clara ou escura). Com forte sabor picante, é ótimo para
acompanhar pratos alemães, suínos, embutidos, picles, batatas, ovos e queijos.
Estimula a salivação, abre o apetite além de ser rica em minerais e ômega 3.
Noz-moscada – uma noz pequena e compacta, encontrada inteira
ou já triturada com sabor acre-doce. Muito perfumada, ótimo para ser usada em
doces ou salgados, e combina muito bem com batatas e molhos brancos. Realça
sabores da carne, legumes e qualquer alimento ou bebida com leite. Há que usar
com parcimônia, por possuir propriedades alucinógenas, alergênicas, abortivas e
estimulantes de menstruação (veja literatura). Sua casca – Macis - com sabor pouco diferenciada, pode ser usada
em sopas e cozidos, ou bolos, molhos cremosos e carnes.
Papoula – pequenas
sementes pretas, da mesma planta que produz o ópio, com sabor parecido ao da
avelã. Usadas na confeitaria e panificação para incrementar e decorar pães,
biscoitos, massas, tortas, ovos, patês, saladas e molhos indianos oferecendo
atraente contraste e crocância final. Muito usadas na culinária judaica. Têm
efeito analgésico, sedativo, e levemente hipnótico, e, por isso, bom para
stress, nervosismo e ansiedades. Também acalmam a tosse e possuem muitos
minerais. Não devem ser consumidas em excesso, pois sua propriedade sedativa
pode se tornar tóxica e entorpecente.
Pimenta-da-Jamaica – pequena bolinha escura com 2 sementes
internas, usadas inteiras, quebradas ou moídas com propriedades estimulantes. Seu atraente aroma combina
canela, noz moscada e cravo, excelentes em conservas, compotas, condimentos de
carne, e mariscos, maioneses, molhos brancos, bolos, biscoitos, pudins etc.
Pimenta-do-reino – branca, preta, vermelha ou verde seca –
são utilizadas para quase todo tipo de preparo e temperos em qualquer cultura e
até em doces. Na quantidade adequada, protege a mucosa estomacal. Possui ação anticoagulante,
antioxidante, anti-inflamatória e ajuda na digestão dos alimentos, aliviando a
flatulência. É diurética e auxilia na circulação sanguínea sendo rica em cálcio
e outros minerais. Sua leve picância pode suprir a redução do sal.
Pimentas – Por sua imensa variedade e propriedades, merecem um trabalho à parte. Falaremos dela oportunamente.
Zimbro – pequenas bagas de cor bem escura das quais se faz o
gim, e muitos temperos. São muito aromáticas e de sabor adocicado e exótico,
compondo boas marinadas para pratos de sabores mais fortes como caças, picles, chutney,
cozidos, etc. Seu óleo, é usado no tratamento de doenças respiratórias, e em
infusão reduz acidez estomacal e mau hálito. Ajuda no tratamento de acnes,
celulites e irritações da pele, inclusive psoríase. Calmante, reduz insônia e
nervosismo.
Enfim, temperos naturais usados na medida certa e com
sensibilidade, sempre nos surpreendem por conferir diferentes sabores, aromas
ou cores em ingredientes ou pratos insípidos. Mas é importante experimentar, e
usar com certos cuidados, pois seu uso incorreto pode estragar um prato ou seu
bem estar físico!
Exageros nunca são saudáveis.
Excelente matéria, uma aula rica sobre temperos!
ResponderExcluirParabéns pelo artigo Cláudia!
Isolda