As mudanças ortográficas da Língua Portuguesa,
cuja implantação está prevista para este ano pelo MEC, é um tema polêmico e,
portanto, divide a opinião dos especialistas no assunto.
De um lado, estão aqueles que aprovam
as alterações, alegando que elas uniformizarão a escrita da Língua Portuguesa,
facilitando, assim, a integração dos países signatários do acordo. Além disso,
acreditam que elas simplificarão a escrita do idioma.
De fato, há inúmeras diferenças, por
exemplo, entre o português do Brasil e o português de Portugal não somente na
fala, mas também na escrita. Claro que isso cria algum obstáculo ao intercâmbio
cultural, turístico, diplomático e comercial. Por outro lado, a grafia de
muitas palavras causa uma dor de cabeça enorme a muita gente, até mesmo àquelas
consideradas intelectuais.
Pelas normas ortográficas atuais, o
emprego do hífen, por exemplo, é, sem dúvida, altamente complexo. Em alguns
casos, ele se torna indispensável – com os prefixos ex-, pós-, vice-, pré- etc.
(ex-diretor, pós-guerra, vice-presidente, pré-natal). Noutros, depende do
prefixo e da letra inicial do radical que o sucede. Portanto, se forem
utilizados os prefixos auto, contra, extra, infra, intra, neo, proto, pseudo,
semi, supra, ultra (SACCONI, Luiz Antonio. Nossa Gramática, Teoria e Prática),
e a palavra posterior começar com vogal, h, r ou h, obrigatoriamente, se deverá
empregá-lo. E isso não é o fim do assunto. Existem outros prefixos e outras
regras. Uma dor de cabeça! A reforma que vem aí propõe, entre outras coisas, a
extinção do hífen em casos como esses.
De outro lado, encontram-se aqueles
que se posicionam contra as mudanças. Eles asseveram que é impossível unificar
a Língua Portuguesa – ou qualquer outro idioma – por causa do seu dinamismo
natural e peculiaridades regionais. O português do Brasil nunca será o mesmo de
Portugal tampouco o das outras ex-colônias lusitanas.
A língua, independentemente de
normatizações criadas pelas academias de letras, sofre influência do contexto
sociolinguístico, de tal maneira que, no Brasil, por exemplo, há uma variedade
de falares. É ilusória, portanto, a crença de que existe apenas uma vertente
culta da língua portuguesa, conforme diz Marcos Bagno em seu livro “Preconceito
Linguístico” e em “A Língua de Eulália”. Essas variedades – legítimas – estão
vinculadas ao regionalismo, ao contexto socioeconômico, ao grau de
escolaridade, ao sexo etc. Ora, se em um único país não se pode falar em
unidade linguística, o que se dirá de continentes!
As mudanças ortográficas serão uma realidade em poucos
dias e, não obstante as divergências legítimas entre os doutores das letras, os
professores de Língua Portuguesa devem estudar o assunto, com profundidade, e,
posteriormente, ensinar aos alunos as novas regras da variante culta ou padrão,
sem, no entanto, deixar de esclarecer-lhes que a língua é viva e dinâmica, pois
está atrelada ao povo e não às normas estabelecidas em gabinetes.Antônio de Souza Matos
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